Iremos postar trechos de uma das
obras de Santo Afonso Maria de Ligório chamada “Glórias de
Maria”. Postaremos especificamente a parte em que o santo faz uma
bela explicação sobre a Imaculada Conceição da Virgem Maria. (Lembrando que a Imaculada Conceição da Virgem Maria é dogma da Igreja proclamado pelo Papa Pio IX em 8 de dezembro de 1854)
***
Quanto
convinha às três pessoas divinas preservar Maria da culpa original
Incalculável foi a ruína que o
maldito pecado causou a Adão e a todo o gênero humano. Perdendo
então miseravelmente a graça de Deus, com ela perdeu também todos
os outros bens que no começo o enriqueciam. Sobre si e seus
descendentes ao lado da cólera divina, atraiu uma multidão de
males. Dessa comum desventura quis Deus, entretanto, eximir a Virgem
bendita. Destinara-a para ser Mãe do segundo Adão, Jesus Cristo, o
qual devia reparar o infortúnio causado pelo primeiro. Ora, vejamos
quanto convinha às Três Pessoas preservar Maria da culpa primitiva.
E isso por ser ela Filha de Deus Pai, Mãe de Deus Filho e Esposa de
Deus Espírito Santo.
PONTO PRIMEIRO
Convinha
ao Pai Eterno isentar da culpa original a Maria
1.É
Maria a filha primogênita do Pai Eterno
Declara-o ela própria com as
palavras do Eclesiástico: “Eu saí da boca do Altíssimo, a
primogênita antes de todas as criaturas” (24,5)
Os sagrados intérpretes e os
Santos Padres aplicam-lhe esse texto, e a própria Igreja dele se
serve na festa da Imaculada Conceição.
Com efeito, é Maria a
primogênita de Deus por ter sido predestinada juntamente com o Filho
nos decretos divinos, antes de todas as criaturas. Assim o ensina a
escola dos escotistas. Ou então é a primogênita, depois da
previsão do pecado, como quer a escola dos Tomistas. São acordes,
porém, uns e outros em chamá-la primogênita do Senhor. Sendo
assim, era sumamente conveniente que Maria sequer um instante fosse
escrava de L[ucifer, mas pertencesse sempre e unicamente a seu
Criador.
Tal se deu em realidade,
conforme as palaras da Virgem: “O Senhor me possuiu no princípio
de seus caminhos” (Pr 8,22). Com razão, pois, lhe dá Dionísio,
Arcebispo de Alexandria, o título de única e exclusiva Filha da
vida, diferente das outras mulheres, que , nascendo em pecado, são
filhas da morte. Criá-la em graça bem convinha, portanto, ao Pai
Eterno.
2.A missão de reparadora do
mundo perdido e de medianeira entre Deus e os homens apresenta o
segundo motivo para a preservação da Virgem Maria
Assim a chamam os Santos Padres,
especialmente S. João Damasceno, que diz: Ó Virgem bendita,
nascestes para servir à salvação de toda a terra. Por isso, na
opinião de S. Bernardo, foi a arca de Noé uma figura de Maria.
Naquela fora livres os homens do dilúvio, tal como por Maria somos
salvos do naufrágio do pecado. Há somente a seguinte diferença:
por meio de Maria foi todo o gênero humano libertado. Daí o
chamar-lhe o Pseudo-Atanásio “nova Eva, mãe dos vivos”. Nova
Eva porque a primeira foi mãe da morte, mas a Virgem Santíssima é
a Mãe da vida. S. Teófilo, Bispo de Niceia, diz À Senhora a mesma
saudação: Eu vos saúdo, porque tiraste o luto no qual Eva nos
amortalhou. S. Basílio nela saída a reconciliadora dos homens com
Deus; S. Efrém, a pacificadora do mundo universo.
Ora é inconveniente que o
intermediário da paz seja inimigo do ofendido, ou, pior ainda, que
seja cúplice do mesmo delito. Para aplacar um juiz,não se lhe pode
mandar um seu inimigo, observa Gregório Magno. Este, em vez de o
aplacar, miais o irritaria. Entretanto, Maria tinha de ser medianeira
de paz entre Deus e os homens. Logo, absolutamente não podia
aparecer como pecadora e inimiga de Deus, mas só como sua amiga toda
imaculada. Mais um motivo reclamou que Deus preservasse Maria da
culpa original.
3.Sua missão de vencedora da
serpente infernal
Seduzindo esta a nossos
primeiros pais, trouxera a morte a todos os homens. O Senhor por isso
lhe predissera: Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua
descendência e a descendência dela (Gn 3,15). Ora, Maria devia ser
a mulher forte, posta no mundo para vencer a Lúcifer. Não convinha
certamente, então, que a princípio houvesse sido subjugada e
escravizada por ele. Era, pelo contrário, mas razoável que
permanecesse livre sempre de toda mácula e de toda sujeição ao
inimigo. Esse espírito mau buscou sem dúvida, infeccionar a alma
puríssima da Virgem, como infeccionado já havia com seu veneno a
todo o gênero humano. Mas, louvado seja Deus! O Senhor a preveniu
com tanta graça, que ficou livre de toda mancha do pecado. E dessa
maneira pôde a Senhora abater e confundir a soberba do inimigo como
declara S. Agostinho, ou quem quer que seja o autor do Comércio do
Gênesis.
Sobretudo um motivo levou o
Eterno Pai a tornar ilesa do pecado de Adão a esta sua Filha. Ei-lo:
4.A eleição dessa Virgem
para Mãe de seu Filho unigênito
Assim fala S. Bernardo à
Senhora: Antes de toda criatura fostes destinada na mente de Deus
para Mãe do Homem-Deus. Se não por outro motivo, pois ao menos pela
honra de seu Filho que é Deus, era necessário que o Pai Eterno a
criasse pura de toda macha. Escreve S. Tomás: Devem ser santas e
limpas todas as coisas destinadas para Deus. Por isso Dav, ao traçar
o plano do templo de Jerusalém com a magnificência digna do Senhor,
exclamou: Não se prepara a morada para algum homem, mas para Deus
(1Cr 29,1). Ora, o soberano Criador havia destinado Maria para Mãe
de seu próprio Filho. Não devia, então, lhe adornar a alma com
todas as mais belas prendas, tornando-a digna habitação de um
Deus? Afirma o Beato Dionísio Cartuxo: O divino artífice do
universo queria preparar para seu Filho uma digna habitação, e por
isso ornou a Maria com as mais encantadoras graças. Dessa verdade
assegura-nos a própria Igreja. Na oração depois da Salve Rainha,
atesta que Deus preparou o corpo e a alma da Santíssima Virgem, para
serem na terra digna habitação de seu Unigênito.
Como é sabido, a primeira
glória para os filhos é nascer de pais nobres. “A glória dos
filhos (são) os seus pais” (Pr 17,6).
Por isso, na sociedade menos
mortifica passar por pobre e pouco formado, do que ser tido por vil
de nascença. Pos com sua indústria pode o pobre enriquecer, e o
ignorânte fazer-se douto com seus estudos. Mas quem nasce vil,
dificilmente pode nobilitar-se, ainda que o consiga, está exposto a
ver quem lhe atirem em rosto a baixeza de sua origem. Deus,
entretanto, podia dar a seu Filho uma Mãe nobilíssima e ilibada da
culpa original. Como então admitir que lhe tenha dado uma manchada
pelo pecado? Como dar a Lúcifer o ensejo de exprobrar ao Filho de
Deus a vergonha de ter nascido de uma Mãe que outrora fora escrava
sua e inimiga de deus? Não; o Senhor não lho permitiu. Proveu à
honra de seu Filho, fazendo com que Maria fosse sempre imaculada.
Assim a fez digna Mãe de tal Filho, como testemunha a Igreja
Oriental.
Dom algum jamais concedido a
alguma criatura, do qual não fosse enriquecida também a Virgem. É
este um axioma comum entre os teólogos. Para confirmá-los eis as
palavras de S. Bernardo: O que a poucos mortais foi concedido, não
ficou sonegado À excelsa Virgem; nem sombra de dúvida pode haver
nisso. S. Tomás de Vilanova assim depõe: Nenhuma graça foi
concedida aos santos, sem que Maria a possuísse desde o começo em
sua plenitude. Há, porém, entre a Mãe de Deus e os servos de Deus
uma infinita distância, segundo a célebre sentença de S. João
Damasceno. Logo, à sua Mãe terá Deus conferido privilégios de
graças, em todo sentido maiores de quantos outorgou a seus servos.
Forçosamente assim teremos de concluir com S. Tomás. Isto suposto,
pergunta S. Anselmo – o grande defensor da Imaculada Conceição: -
Faltaria poder à Sabedoria divina para preparar a seu Folho uma
morada pura e para preservá-la da mancha do gênero humano? Pois,
continua o Santo, Deus, que pôde eximir os anjos de céu da ruínade
tantos outros, não teria podido preservar a Mãe de seu Filho, a
Rainha dos anjos, da queda comum aos homens? E acrescento eu: Deus,
que pôde conceder a Eva a graça de vir ao mundo imaculada, não
teria podido concedê-la também a Maria?
Ah! certamente que sim! Deus
podia fazê-lo, e assim o fez. Diz, por isso, S. Anselmo: A Virgem, a
quem Deus resolveu dar seu Filho Único, tinha de brilhar numa pureza
que ofuscasse a de todos os anjos e de todos os homens, e que fosse a
maior imaginável possível, abaixo de Deus. Por todos os motivos,
era isso conveniente S. João Damasceno exprime o mesmo pensamento
com mais clareza: “O Senhor a conservou tão pura no corpo e na
alma, como realmente convinha àquela que iria conceber a Deus em seu
seio. Pos santo como ele é, procura morar só entre os santos.
Portanto, o Eterno Pai podia dizer a esta filha: Como o lírio entre
os espinhos, és tu, minha amiga, entre as filhas (Ct 2,2): Pois,
enquanto as outras foram manchadas pelo pecado, tu fostes sempre
imaculada e cheia de graça.
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